segunda-feira, 6 de julho de 2020


A moura encantada e o Lenhador

À meia-noite do dia de S. João, o curioso poderá ouvir em diferentes rochas da região o tac-tac surdo de velhos teares de amoreira e o vaivém da lançadeira através de dourados fios de seda, impelida pelas formosas mãos de lendária moura encantada. Um dia, um lenhador, percebendo o rodopio de um sarilho, aproximou-se da alta penedia e viu uma linda compatriota de Tárique a transformar as fartas maçarocas em sedosas meadas. E pôde ver que, terminada a tarefa, a novo trabalho deu começo: colocar sobre a dobadoura as meadas e enovelar os delgados fios, ao mesmo tempo que molhava os dedos lassos no límpido arroio que lhe corria aos pés. E, como não conhecia o regulamento dos encantos, ou, talvez, levado pela beleza inexcedível da donzela, foi-se aproximando, dirigindo-lhe carinhosamente a fala. De repente, o fio partiu-se, o fuso de ouro caiu na corrente murmurante, e, com surpresa, observou a pobre moura a fugir para a misteriosa galeria da rocha, de tranças soltas ao vento, a chorar, com a encantação dobrada. É que ela havia-se esquecido de molhar os dedos na água, humedecendo-os de saliva, e, por isso, o fio partiu, e ela recolheu, apressada, para o encantamento, não sem ter tempo de levar os pentes cravejados de rútilos diamantes com que tinha alisado as louras madeixas.

A moura da Cidagonha

Na aldeia de Moimenta, concelho de Vinhais, há um lugar com sinais de antigas fortificações conhecido por Cidagonha, e a que o povo também chama "cidade dos mouros". Diz a lenda que vivia ali uma princesa mourisca encantada que, ora aparecia a pentear os seus cabelos com um pente de ouro, ao luar, ora a tecer num tear de ouro, cujo bater compassado dos pentes na teia e o ruído dos pedais poderiam ouvir-se na povoação em noites calmas. Outras vezes poderia ouvir-se a referida princesa cantar melodiosas canções de saudade, cujas palavras não seriam percetíveis. Segundo a lenda, o tesouro seria constituído pelo tear, o pente e muitos outros utensílios e joias da princesa, incluindo um manto, tudo em ouro. Mas tratando-se de um tesouro encantado, este só poderia ser descoberto por pata de ovelha e ponta de relha.

A lenda da igreja de São Facundo

Segundo a lenda, no tempo em que os cristãos estavam atrás dos mouros para os converter, um destes fugira e refugiara-se dentro da igreja. O cavaleiro cristão que o seguia, ao tentar entrar na igreja, o seu cavalo prendeu os cascos ao chão com força, deixando lá a marca das ferraduras. O mouro vendo isto imaginou que fora Deus que o salvara e converteu ao Cristianismo.


Lenda do Caúnho

Conta-se que há muitos anos no lugar do Caúnho, em Agrochão, no concelho de Vinhais, ouvia-se um tear a tecer no meio de uma rocha, num monte longe da povoação. Um rapaz, intrigado com o barulho, aproximou-se e viu então uma cobra enorme, com uma grande cabeleira, a qual penteava com um rico pente de ouro e diamantes. A cobra ao ver o rapaz disse-lhe:
-Se me deres um beijo vou fazer-te feliz. Estou aqui encantada nesta horrível serpente. Mas sou uma linda princesa moura. Aceitas dar-me um beijo?
O moço aceitou. Mas ao aproximar-se sentiu tanto medo que recuou e fugiu. Ela ainda tentou apanhá-lo, mas ele foi mais ligeiro. E nas suas costas ouviu-a dizer:
-Ah, ladrão, que dobraste o meu encanto!
O rapaz contou na povoação o sucedido. Outros moços foram lá também, mas nenhum voltou a vê-la. Mesmo assim continua a dizer-se que em certos dias ainda há quem ouça ali o bater do tear.

Lenda da Torca de Balmeão

Junto a um lameiro, no termo de Vilar de Peregrinos, concelho de Vinhais, há um lugar que o povo conhece como a Torca de Balmeão, onde passa um pequeno ribeiro e para onde as mulheres costumam levar o linho para ficar macio. Diz que, há muito tempo, ficou ali uma moura encantada com um bebé, que muitas vezes se ouve chorar. E também se diz que ela só se livraria do encanto se o bebé fosse batizado, e que, para ficar batizado, bastaria que fosse amamentado por uma mulher que também estivesse batizada. Um dia uma mulher da aldeia foi tirar o linho da laga, e deixou ficar o seu menino a dormir  à sombra de umas árvores do lameiro enquanto ela trabalhava. Então a moura, que estava à espreita, foi lá e trocou os bebés, ficando à espera que a mulher lá fosse dar de mamar. Dali a nada, a mulher ouvia uma voz que lhe dizia:
-Ó mulher do linho vai calar o teu menino!
Mas ela, como conhecia bem o filho, e como o tinha deixado bem farto, só respondia:
-O meu bem calado está!
E continuava o seu trabalho sem lhe dar ouvidos. Por fim a moura, cansada de ouvir o seu menino a chorar tanto, voltou a ir lá e destrocou-os. Diz-se que, por isso, ainda lá continua na Torca do Balmeão, com o filho a chorar, à espera de ser batizado, E também se diz que o som do ribeiro, quando vem mais forte, é o choro do bebé.

Lendas pesquisadas pela aluna Alexandra Zamora, n.º1, 8.ºB.

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