A
moura encantada e o Lenhador
À meia-noite do dia de S. João, o curioso
poderá ouvir em diferentes rochas da região o tac-tac surdo de velhos teares de
amoreira e o vaivém da lançadeira através de dourados fios de seda, impelida
pelas formosas mãos de lendária moura encantada. Um dia, um lenhador,
percebendo o rodopio de um sarilho, aproximou-se da alta penedia e viu uma
linda compatriota de Tárique a transformar as fartas maçarocas em sedosas
meadas. E pôde ver que, terminada a tarefa, a novo trabalho deu começo: colocar
sobre a dobadoura as meadas e enovelar os delgados fios, ao mesmo tempo que
molhava os dedos lassos no límpido arroio que lhe corria aos pés. E, como não
conhecia o regulamento dos encantos, ou, talvez, levado pela beleza inexcedível
da donzela, foi-se aproximando, dirigindo-lhe carinhosamente a fala. De
repente, o fio partiu-se, o fuso de ouro caiu na corrente murmurante, e, com
surpresa, observou a pobre moura a fugir para a misteriosa galeria da rocha, de
tranças soltas ao vento, a chorar, com a encantação dobrada. É que ela havia-se
esquecido de molhar os dedos na água, humedecendo-os de saliva, e, por isso, o
fio partiu, e ela recolheu, apressada, para o encantamento, não sem ter tempo
de levar os pentes cravejados de rútilos diamantes com que tinha alisado as
louras madeixas.
A
moura da Cidagonha
Na aldeia de Moimenta, concelho de
Vinhais, há um lugar com sinais de antigas fortificações conhecido por
Cidagonha, e a que o povo também chama "cidade dos mouros". Diz a
lenda que vivia ali uma princesa mourisca encantada que, ora aparecia a pentear
os seus cabelos com um pente de ouro, ao luar, ora a tecer num tear de ouro,
cujo bater compassado dos pentes na teia e o ruído dos pedais poderiam ouvir-se
na povoação em noites calmas. Outras vezes poderia ouvir-se a referida princesa
cantar melodiosas canções de saudade, cujas palavras não seriam percetíveis.
Segundo a lenda, o tesouro seria constituído pelo tear, o pente e muitos outros
utensílios e joias da princesa, incluindo um manto, tudo em ouro. Mas
tratando-se de um tesouro encantado, este só poderia ser descoberto por pata de
ovelha e ponta de relha.
A
lenda da igreja de São Facundo
Segundo a lenda, no tempo em que os
cristãos estavam atrás dos mouros para os converter, um destes fugira e
refugiara-se dentro da igreja. O cavaleiro cristão que o seguia, ao tentar
entrar na igreja, o seu cavalo prendeu os cascos ao chão com força, deixando lá
a marca das ferraduras. O mouro vendo isto imaginou que fora Deus que o salvara
e converteu ao Cristianismo.
Lenda
do Caúnho
Conta-se que há muitos anos no lugar do
Caúnho, em Agrochão, no concelho de Vinhais, ouvia-se um tear a tecer no meio
de uma rocha, num monte longe da povoação. Um rapaz, intrigado com o barulho,
aproximou-se e viu então uma cobra enorme, com uma grande cabeleira, a qual
penteava com um rico pente de ouro e diamantes. A cobra ao ver o rapaz
disse-lhe:
-Se me deres um beijo vou fazer-te feliz.
Estou aqui encantada nesta horrível serpente. Mas sou uma linda princesa moura.
Aceitas dar-me um beijo?
O moço aceitou. Mas ao aproximar-se sentiu
tanto medo que recuou e fugiu. Ela ainda tentou apanhá-lo, mas ele foi mais
ligeiro. E nas suas costas ouviu-a dizer:
-Ah, ladrão, que dobraste o meu encanto!
O rapaz contou na povoação o sucedido.
Outros moços foram lá também, mas nenhum voltou a vê-la. Mesmo assim continua a
dizer-se que em certos dias ainda há quem ouça ali o bater do tear.
Lenda
da Torca de Balmeão
Junto a um lameiro, no termo de Vilar de
Peregrinos, concelho de Vinhais, há um lugar que o povo conhece como a Torca de
Balmeão, onde passa um pequeno ribeiro e para onde as mulheres costumam levar o
linho para ficar macio. Diz que, há muito tempo, ficou ali uma moura encantada
com um bebé, que muitas vezes se ouve chorar. E também se diz que ela só se
livraria do encanto se o bebé fosse batizado, e que, para ficar batizado,
bastaria que fosse amamentado por uma mulher que também estivesse batizada. Um
dia uma mulher da aldeia foi tirar o linho da laga, e deixou ficar o seu menino
a dormir à sombra de umas árvores do lameiro enquanto ela trabalhava.
Então a moura, que estava à espreita, foi lá e trocou os bebés, ficando à
espera que a mulher lá fosse dar de mamar. Dali a nada, a mulher ouvia uma voz
que lhe dizia:
-Ó mulher do linho vai calar o teu menino!
Mas ela, como conhecia bem o filho, e como
o tinha deixado bem farto, só respondia:
-O meu bem calado está!
E continuava o seu trabalho sem lhe dar
ouvidos. Por fim a moura, cansada de ouvir o seu menino a chorar tanto, voltou a
ir lá e destrocou-os. Diz-se que, por isso, ainda lá continua na Torca do
Balmeão, com o filho a chorar, à espera de ser batizado, E também se diz que o
som do ribeiro, quando vem mais forte, é o choro do bebé.
Lendas pesquisadas pela aluna
Alexandra Zamora, n.º1, 8.ºB.
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